BATALHA DO MONTE DAS TABOCAS. NATIVISMO E SENTIMENTO DE PÁTRIA
Mais um pequeno texto extraído de um importante documento histórico, “História da Guerra
de Pernambuco”, escrito por Diogo Lopes Santiago, cronista português
que viveu em Pernambuco, por ocasião da batalha do Monte das Tabocas:
“O alto Monte que chamam de Tabocas, tão afamado no tempo presente,
como o será no futuro, pela milagrosa vitória alcançada nele, está no
sertão e dista do Recife nove léguas para o poente por cuja parte o rega
um rio, chamado Ta- picurá”.
Assumiu a liderança da resistência pernambucana o senhor de engenho, João Fernandes Vieira, aclamado “governador da liberdade,” por seus companheiros de luta. Após alguns revezes impostos aos invasores, João Fernandes Vieira tor- nou-se o alvo principal dos holandeses que queriam prendê-lo a todo o custo.
Para escapar dos inimigos, João Fernandes Vieira, escondia-se no interior, mudando sempre de endereçoEm junho de 1645 os holandeses armaram-se e saíram em perseguição ao chefe das nossas tropas. Partindo do Recife, eles ingressaram por São Lourenço da Mata, em busca de João Fernandes Vieira, que procurou fugir do inimigo.
Retirando-se mais para o interior nossas tropas chegaram ao Monte das Tabocas, assim chamado, por haver em suas encostas imenso tabocal.
Na manhã de três de agosto as sentinelas brasileiras anunciaram a aproximação das tropas holandesas que vinham com toda fúria, tendo à frente uma multidão de índios. Vieira reuniu seus soldados e a eles se dirigiu com tom resoluto proferindo fortes palavras: “a sorte da nossa causa depende deste primeiro combate”. A causa, era a libertaçãode Pernambuco. Uma hora da tarde do dia 3 de agosto de 1645, ocorreu a grande batalha. Os luso-brasileiros, usando a tática de emboscadas, atacavam e se afastavam, fugiam e investiam, atraindo e empurrando os invasores para dentro do tabocal. Resistindo e ludibriando os holandeses, nossos bravos soldados combateram ferozmente. Em um segundo momento eles conseguiram transpor o tabocal e marcharam em direção ao alto do monte, onde estava a força reserva de João Fernandes Vieira. Ferozmente nossa tropa caiu sobre o inimigo e após fortes combates, que duraram até ao anoitecer, nossos soldados conseguiram derrotar os holandeses que aproveitaram a escuridão da noite e fugiram apavorados sob torrencial chuva.
Narra a tradição, que durante os fortes combates, surgiram uma senhora com uma criança no braço, tendo ao lado um ancião barbudo com um cajado e eles além de alento, forneciam armas aos nossos bravos soldados. De acordo com a crença popular, seriam, Nossa Senhora com o Menino Jesus e Santo Antão. Essa mística narrativa, que só a fé explica, justifica a frase: “Em Tabocas, o céu e a terra uniram-se para gerar o Brasil”
No outro dia ao amanhecer, vendo que o inimigo havia realmente fugido, nossos bravos heróis, de joelhos, agradeceram a Deus e à Virgem de Nazaré, e gritaram três vezes em alta voz: “Viva a fé de Cristo e a liberdade. Vitória, vitória, vitória”. E logo, o grande chefe, João Fernandes Vieira, com o chapéu na mão, foi abraçando a todos os capitães e soldados, agradecendo-lhes e louvando-lhes o esforço e a coragem.
Nosso pequeno exército em formação, constituído de homens descalços, sem armamentos adequados, lutando com amor, de peito aberto, bateu as bem treinadas e bem armadas tropas holandesas.
A batalha do Monte das Tabocas, foi um marco na campanha da insurreição pernambucana. “Sem Tabocas, não haveria Guararapes”. Em Tabocas, germinou em nossa gente, o sentimento nativista e de pátria. Ali, originou-se o embrião do exército brasileiro.
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